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Duque do Caajara entra para o Hall da Fama da ANCR

10 DE NOVEMBRO DE 2022 - ATUALIZADA EM 10 DE NOVEMBRO DE 2022 | Redator: Marina Bonati/ABCCC

Mencionar Duque do Caajara ao falar de Rédeas é como ativar uma memória chave para compreender a potência do Cavalo Crioulo no cenário da modalidade. Afinal, ser um multicampeão de pistas, se aposentar aos 16 anos em alto nível, consolidar uma carreira exemplar em competições no Brasil e no mundo, além de ser um reprodutor cujo sangue competitivo predomina nas veias de seus descendentes, não é para qualquer um. É para quem merece estar com a imagem estampada junto aos melhores. E é isso que acontecerá na noite de 10 de novembro, em Avaré/SP: sua trajetória será valorizada durante o evento anual da Associação Nacional do Cavalo de Rédeas (ANCR) por meio do prêmio “Hall da Fama” 2022. Os cavaleiros Gilson Vendrame e Antônio Corrêa receberão o prêmio, representando a trajetória de Duque e também a Cabanha do 38. 


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O prêmio, que integra a programação do Super Stackes, reverencia personalidades e animais que fazem a história do Rédeas no Brasil (e no mundo) acontecer. Nomes como Country Dun It, Gunner Boy e Reminic N Dunit, inclusive, já foram eternizados durante os seis anos de existência da premiação. E, agora, além de Duque colecionar títulos que o levaram a um patamar grandioso, também será eternizado como um craque e grande reprodutor por seus feitos. Também pudera: Duque do Caajara se encontra na 13ª colocação do ranking entre os brasileiros reprodutores de rédeas em atividade da ANCR - ou seja, sem contar outros méritos como as pontuações da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), por exemplo.


Além disso, foi Potro do Futuro no Brasil em 2002, pela ANCR, e no ano seguinte carregou a responsabilidade de ser o primeiro Crioulo a participar do Potro do Futuro em Oklahoma City, nos Estados Unidos. Tudo isso (e muito mais) sempre com uma condução e plano de carreira à altura: sua história está entrelaçada à visão do cavaleiro Gilson Vendrame, grande preparador de sua carreira e, posteriormente, aos planos da Cabanha do 38 e do cavaleiro Antônio Corrêa.



Um encontro de campeões - Gilson Vendrame

“Eu sempre falo que, na verdade, não fui eu que achei o Duque, ele que me achou”, ressaltou Gilson Vendrame logo de cara. O cavaleiro tinha acabado de ganhar o Campeonato Nacional na ANCR com o Crioulo Édipo Rei do Infinito com a expressiva nota de 227,5. Estava em um ótimo momento da carreira, quando foi dar um curso em Itú/SP e soube por terceiros que alguns Crioulos estavam por ali. Mas não imaginava o potencial que poderia encontrar. Na semana seguinte, ao ver o potro, teve uma reação instantânea: “PODE COMPRAR! Trata dele o quanto der o, quanto puder”, disse ao antigo comprador.


No cabresto, Duque já impressionava pelo comportamento, mostrando ser um cavalo muito expressivo, com um olhar diferente, se destacando em relação aos demais. Mas precisava tirar o atraso em relação aos outros, aos dois anos de idade. Em 60 dias, o treinador Fernando Godoy foi mostrar o resultado efetivo e impressionante. E assim, Vendrame passou a montá-lo exclusivamente. “Um fenômeno! Todas as vezes que a gente mostrava algo diferente para ele, parecia que ele já sabia fazer. Esse cavalo veio como uma graça de Deus”, contou.


Com 13 meses de treinamento de Duque do Caajara, Vendrame foi assistir o Potro do Futuro nos Estados Unidos e ali soube que tinha o cavalo certo para levar em um outro momento. Quando chegou na véspera do Snaffle Bit, já o projetava como “ganhador Potro do Futuro”, fazendo todos os processos possíveis para não perder o cavalo de vista, inclusive intervindo na compra e venda. “O antigo dono quis vender o cavalo e eu fiquei com ele. Depois ele me reembolsou e acabou ficando, mas na verdade eu fiz tudo aquilo porque apostava nele. De lá para cá, veio o Pré-futurity, com uma performance muito além da esperada e, claro, a vitória. Na sequência, o tão sonhado Potro do Futuro, onde a cada etapa superava as notas dos adversários. E o destino, é claro, foi os Estados Unidos, com destaque nos treinos e ofertas milionárias. O único impedimento foi o acidente de Vendrame no ombro. Um percalço. Mas logo o bronze em outra prova veio e a carreira foi se consolidando também fora do Brasil, com diversos destaques. 



Acumulando títulos, Vendrame o denomina como um dos maiores cavalos que já passaram na sua vida. Tanto que ao conhecer a estrutura e a receptividade da Cabanha do 38, o indicou para Feijó em uma relação mútua de confiança e gratidão. “Só tenho a agradecer ao Feijó e ao Alemão [Antônio Corrêa] por darem continuidade ao trabalho, e com os potros dele ainda”, finalizou. 


 

A história de Duque nos planos de João Carlos Brasil Feijó

A Cabanha do 38 começou em Rédeas em 2002 com o objetivo de desenvolver uma genética da modalidade a partir da base Freio de Ouro, que fosse competitiva com a raça Quarto de Milha - ativamente presente há mais de 50 anos. Os primeiros passos vieram com a tentativa de seguir com a genética da Cabanha, que gerou bons resultados, mas sempre tropeçava no caminho ao se deparar com um potro cuja cabanha ainda desconhecida era chamada de Caajara. Anos depois, o potro ficou famoso, ganhando o Snaffle Bit (bridão), Potro do Futuro e Campeonato Nacional da Associação Nacional de Rédeas contra os Quarto de Milha, importados “a peso de ouro” dos EUA, como menciona Feijó. Nesse tempo, Duque foi aos EUA e ganhou uma prova (Reinarama) sendo finalista do Derby e estava com tudo pronto para a final do Potro do Futuro, mas devido a um acidente com o ginete na véspera da prova, precisou adiar os planos. No entanto, voltando ao Brasil, ganhou a Copa Querência e foi Bicampeão do Nacional da ABCCC. 



“Sabíamos que para realizar nosso sonho de ter uma genética específica de rédeas, precisávamos de um garanhão de excessão”, contou Feijó. E foi com esse pensamento que, em 2010, surgiu uma oportunidade graças a Gilson Vendrame, único profissional a montar o Duque até então: Gilson intermediou a negociação e Duque do Caajara foi trazido para a Cabanha do 38. A partir daí, o garanhão já gerou quase 100 filhos que ganharam diversas competições e em várias categorias, fazendo com que ele ganhasse o prêmio de melhor reprodutor na ANCR, assim como também trouxe o título de melhor criador à Cabanha do 38. Agora, chegou o tão sonhado momento de ver Duque fazer parte do seleto grupo do Hall da Fama da ANCR, que até então contava com dez cavalos, todos Quarto de Milha.


“Graças ao Duque, hoje temos uma manada de filhas, todas com ranking em rédeas. Por sorte, enquanto formávamos este plantel, surgiram mais dois cavalos excepcionais, F5 Licurgo Tapajos e Jubileu da Roraima. O cruzamento das filhas do Duque com estes craques estão produzindo a primeira linhagem selecionada especificamente para rédeas na raça crioula. No Rédeas de Ouro, na prova de potros já aparecerão os primeiros frutos desta seleção”, diz Feijó. E completa: “assim como Hornero no Brasil e Estribillo no Chile, achamos que o Duque será a base para o desenvolvimento de uma genética de rédeas capaz de concorrer com os Quarto de Milha no mundo, principalmente se mais criadores fizerem um trabalho semelhante”.



Longevidade e sucesso ao lado de Antônio

Ao chegar na Cabanha do 38, Antônio Corrêa foi quem assumiu Duque. E essa parceria seguiu dando o que falar, principalmente em relação aos seus descendentes: “para mim, o Duque é um indivíduo extraclasse. Poucos cavalos no mundo vão ser tão bons, como indivíduos, como ele. Mas um dos grandes méritos desse cavalo é o tanto de potros bons que ele reproduz e consegue repassar as qualidades dele. Sou abençoado por ter a oportunidade de conviver tantos anos com ele”, revelou Corrêa.   


Antônio domou, treinou e apresentou o primeiro filho de Duque, provando que sangue não é água. E desde então, todos seus descendentes se perpetuam na carreira, trazem alegrias aos seus donos e cavaleiros, e possibilitam competições de peso, com títulos importantes somados à sua trajetória. “Ele cobre cerca de 12 éguas por ano. Mesmo assim, é o campeão do Potro do Futuro com maior número de filhos finalistas do Potro do Futuro da ANCR”, exaltou Corrêa. Hoje, Duque tem 22 anos, e contempla uma vida plena no Centro de Treinamento de Antônio, sob a propriedade da Cabanha do 38, localizada em Arroio Teixeira. Claro, sempre trazendo muito orgulho ao seu dono, João Feijó, que inclusive fez questão de competir com o cavalo em uma prova amadora.