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Pequenos grandes vaqueiros

19 DE JULHO DE 2013

A história do acanhado que se agiganta e ameaça o mais graúdo voltou a mexer com o imaginário popular, porém, neste caso, não estamos nos referindo à épica batalha entre Davi e Golias. Desta vez, o destaque do Crioulo na Vaquejada - considerado um cavalo de baixa estatura para as exigências da modalidade - e a afronta à supremacia de raças de maior alçada e tradição na prova, são o que vem derrubando mitos e conquistando criadores que apostam na proeminência desse "pequeno bravo" no futuro da competição. “O Crioulo é um gigante”, celebra o criador Joathas Lins de Albuquerque, de Maceió/AL, entusiasmado com os primeiros resultados dos animais da raça que mantém em treinamento específico para a prova. Assim como ele, outros vaqueiros do Norte e Nordeste do País também já descobriram o potencial do cavalo do Sul e incentivam o fortalecimento da sua participação nessa modalidade que, além de oportunizar a sua maior difusão, ainda constitui intenso mercado consumidor.   A própria Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), ciente da qualidade do produto que administra e da alta movimentação financeira envolvida no meio, idealizou e mantém há cerca de três anos um projeto de fomento à consolidação da raça na modalidade. A ideia é estimular o uso e o interesse pelo Crioulo através da promoção de eventos exclusivos, com boas premiações, facilidades nas negociações etc.   A julgar pela expectativa dos criadores e pelo retrospecto dos primeiros animais inseridos na vaquejada, as perspectivas em relação ao cavalo Crioulo na modalidade se mostram cada vez mais animadoras e apontam para um futuro de grandes conquistas.   Em busca de cavalos mais altos   O alagoano Joathas de Albuquerque é mais um dos que creem na alta qualidade do Crioulo, entretanto, considera que a altura mediana da raça limita o seu desempenho com o pesado gado zebuíno. “Para nós o cavalo precisa ser maior. Pelo menos com 1,50m”, opina. Criador de Quarto de Milha, Albuquerque salienta o diferencial do Crioulo. “O Quarto de Milha corre um ano e só e depois se quebra todo, são fracos de patas. O Crioulo se mantém forte. É um cavalo de muita resistência, bom temperamento e manutenção barata”, opina.   Na sua propriedade, além de Cortês Tupan, filho do BT Faceiro do Junco, que já está competindo, foram agregados mais animais para o mesmo fim. “No ano passado fui à Expointer, vi o Freio de Ouro e fui a vários remates. Comprei dois potrancos, um filho do Pergaminho AA e outro filho do Viragro Hijo Guapo, que estou começando a trabalhar”, conta animado.   Projetando a criação de um Núcleo de criadores no Nordeste, o criador diz acreditar que os criadores do Sul precisam olhar com bons olhos para a vaquejada, que tem muito potencial. “Eu acredito muito no cavalo Crioulo e não tenho dúvidas de que se os criadores apostarem realmente na vaquejada, em dez anos ele dominaria a modalidade e superaria o Quarto de Milha. O Crioulo não precisa provar mais nada, ele só precisa é de uma oportunidade.”   Entre os melhores no Ceará   Presidente da Associação de Vaqueiros Amadores do Ceará (Avace), Leôncio Barreto está envolvido com o projeto desde o início. Com criatório localizado na capital, Fortaleza, Barreto acompanha de perto o andamento da raça na modalidade e também tem celebrado bons resultados. Três de seus animais - Suprema Ala Noche, Suprema Aca Estoy e Trovador de São Pedro - foram os destaques de uma vaquejada realizada recentemente no estado nordestino.   O resultado dos Crioulos na Vaquejada de Jaguaribe/CE, realizada entre os dias 23 e 26 de maio no Parque Pereira de Freitas, foi de grande repercussão no esporte. Ala Noche e Aca Estoy formaram a dupla inicial com o primeiro na esteira e, mesmo correndo uma boiada nelore forte pesando em média 270 quilos, ocorreram três retornos, ou seja, os bois não chegavam nas faixas para serem derrubados em virtude da pressão que os cavalos imprimiam sobre eles.   Com a oportunidade de correr mais três vezes, os vaqueiros optaram por trocar o cavalo de puxar. Trovador de São Pedro entrou em pista e teve uma participação excelente, conquistando o privilégio de não correr o primeiro boi da eliminatória decisiva. Entre mais de 500 duplas de competidores passaram somente 55 à final, com os Crioulos se classificando entre as 18 melhores duplas que passaram sem faltas. No ultimo dia, com uma boiada de 360 quilos, houve racha da premiação de R$ 38 mil para os 19 que continuavam na disputa, cabendo a cada um R$ 2 mil sendo R$ 15 mil para o primeiro colocado. A equipe de Barreto saiu da competição quando restavam somente seis duplas competindo, terminando no décimo lugar geral.   “Primeiro quero agradecer pela confiança depositada pela diretoria da ABCCC na representação da raça na vaquejada. Esse resultado foi uma façanha e posso afirmar que a admiração de todos os presentes com o desempenho dos ‘pequenos cavalos’ foi o maior comentário do evento”, diz Leôncio, que também destacou o resultado alcançado uma semana depois, a classificação em primeiro lugar na categoria Amador na Vaquejada de Caucaia/CE.   Mercado para cavalos castrados   Após a conquista de vários prêmios no Piauí com o criador Marcelo Rodrigues Sérgio, uma dupla de crioulos chamou a atenção dos vaqueiros do estado e regiões vizinhas. Descendente de dois vencedores do Freio de Ouro, a dupla Pura Pinta do Infinito, filho de Consuelo do Infinito, e LS Ouro e Fio, filho de LS Balaqueiro, teve grande destaque em uma série de provas e, consequentemente, se valorizou na modalidade.   Pura Pinta, um castrado que atua como puxador, foi vendido por Sérgio ao também vaqueiro Pedro Alves de Souza, da Chácara Mirandas, de São José de Ribamar, no Maranhão. A transação, ao custo de R$ 60 mil, mostrou outra característica interessante do esporte. “O cavalo de vaquejada é muito valorizado porque o criador só quer um animal bom para correr e ganhar o prêmio, não importa se é castrado ou não. Já vi castrados serem vendidos a R$ 120 mil”, afirma o comprador.   Souza conta que gosta do cavalo já há algum tempo e inclusive já havia feito uma proposta ao ex-proprietário, porém, só conseguiu comprá-lo agora. “Estou muito feliz, semana passada competi com ele e fiquei em terceiro lugar na vaquejada de São Luiz. Tenho a intenção de no próximo trimestre adquirir outro Crioulo, de preferência da mesma cor de pelo, para fazer o esteira.” Ouro e Fio, o esteira,  foi vendido a um criador amigo de Souza por R$ 20 mil.   Texto: Douglas Saraiva/ABCCC