Vilson de Souza relembra o primeiro Freio de Ouro
11 DE OUTUBRO DE 2012
O tempo passa. As coisas evoluem. Mas as grandes conquistas ficam preservadas na memória daqueles que tiveram o prazer de vivenciá-las. Com o Freio de Ouro, maior prova de seleção do Cavalo Crioulo, não é diferente. A competição cresceu, se expandiu ao longo destas 31 edições. Vitórias emocionantes, marcadas pela superação de limites e consagradas com lembranças inesquecíveis. Recordações estas que têm lugar cativo na memória daqueles que as vivenciaram. Não são esquecidas nem mesmo pelo vencedor do primeiro Freio de Ouro da história, o ginete Vilson Charlat de Souza, que hoje, aos 78 anos, ainda lembra, com emoção, de cada momento vivido ao lado do rosilho Itaí Tupambaé naquele histórico 26 de maio de 1982.
Na época, a prova, já disputada em Esteio, em meio à programação da Expointer, ainda era algo extremamente novo. “Todo mundo queria ver o tão falado, mas pouco conhecido prêmio”, relata Vilson, detentor de cinco Freios de Ouro, quatro Freios de Prata e dois Freios de Bronze. Em meio às recordações, o ginete também traz, na ponta da língua, o nome dos dois principais concorrentes de seu cavalo, Chacay Sombra e BT Ópio, que pelearam com Itaí até o último instante. “Foram necessários vários desempates. Mas cá entre nós, acho que os jurados já tinham que ter nos dado o título muito antes”, opina, sem qualquer resquício de modéstia.
A justificativa para tal avaliação, segundo Vilson, está na grande sintonia mantida entre ele e Itaí. “Eu, como um velho cavaleiro, o sentia em todos os movimentos. Um cavalo bom de morfologia e que obedecia a cada comando, superior aos demais cavalos”. Ao que tudo indica, tal “química”, como descreve o experiente ginete, foi reconhecida pela arbitragem. “Quando veio a sentença, o BT Ópio em terceiro, Chacay Sombra em segundo e o Itaí Tupambaé em primeiro, foi uma coisa impressionante. As pessoas choravam”, relata, ao deixar correr sobre a face as mesmas lágrimas que deixara escapar há exatos 30 anos.
Uma grande lembrança
Infelizmente, o vitorioso Itaí, filho do maior reprodutor da história da raça, La Invernada Hornero, na égua Preciosa do Cinco Salsos, não ficou por muito tempo ao lado de seu ginete e de seu criador e proprietário, Oswaldo Pons. Com cerca de cinco anos, dois anos após marcar toda a história da raça crioula, Itaí morreu em decorrência de problemas alimentares. “Mas deixou 200 crias”, pondera Vilson, na época despreparado para uma despedida definitiva. E para amenizar a dor da saudade, o cavaleiro decidiu, junto a Pons, guardar o couro de Itaí como recordação. “Muita gente achou loucura guardar o cavalo que já tinha morrido, mas é uma lembrança muito grande. Não só para mim, mas para todo o pessoal do cavalo crioulo”, opina o ginete.
28 anos se passaram desde a morte prematura de Itaí, mas Vilson ainda mantém seu cavalo perto de si. O couro, com meio-cortume, fica guardado em uma caixa com naftalinas, na sede da Cabanha Marca Dois, em Bagé. “Mas penso em entregá-lo para o Oswaldo. Afinal, já estou com 78 anos. Quem sabe quanto tempo mais eu irei ficar por aqui”, diz, choroso, ao ver e acariciar a crina, totalmente conservada do animal precursor.
Presente
Mas nem só de passado vive Vilson Souza. E nem só em couro e boas lembranças Itaí foi preservado. Sua genética ainda galopa pelos campos da propriedade do ginete na potranca Peleia da Marca Dois, sobrinha do campeão. Sobre a possibilidade de Peleia se consagrar uma vencedora, assim como seus tios, Itaí e Nobre (irmão inteiro de Itaí e também agraciado com o título de Freio de Ouro no ano de 1990), Vilson diz que a potranca, de quatro anos, é promissora, mas que ainda existe um longo caminho a ser trilhado. “Ela está tendo um começo maravilhoso, mas não sei se vai ter um cavaleiro que a faça vencedora”, avalia.
E por falar em ginetes, o bom e velho Vilson faz uma crítica àqueles que não se dedicam a um único cavalo e que optam por ir com muitos animais à final. “Tem gente que leva oito cavalos. Mas duvido que estes consigam ter a sintonia e a capacidade de sentir seus animais como eu tinha com o Itaí. Acho que nestes casos acaba faltando química com os cavalos”, opina. Já com relação aos rumos dados à prova pela ABCCC, Vilson se rende em elogios. “A Associação está nas mãos de pessoas muito competentes. Souberam, e ainda sabem, fazer um bom trabalho com o nosso cavalo e a nossa prova”, afirma.
Encontrou algum erro? Comunique.