Cavalo Crioulo é testado por atleta paraolímpica
17 DE AGOSTO DE 2012
A inteligência, docilidade e versatilidade do cavalo Crioulo conquistam, cada vez mais, novos admiradores e adeptos. Além disso, seu potencial e desenvoltura em atividades esportivas têm despertado o interesse de atletas e renomados profissionais que atuam nas mais diversas modalidades equestres. A mais nova e inédita experiência com animais da raça envolve uma história de persistência e superação, cujo resultado abrange a possibilidade de uma medalha olímpica.
Foi meio que por acaso, quando buscava uma nova alternativa e ao mesmo tempo um pretexto para voltar a se dedicar aos treinos que a atleta paraolímpica paulista Sonia Maria Vergueiro van Langendonck, de 59 anos, descobriu o cavalo Crioulo. Após um tempo afastada, por uma série de motivos, das pistas de provas, a atleta de Adestramento acredita na performance da raça para voltar a competir. O seu objetivo são as olimpíadas de 2016 no Brasil.
O envolvimento de Sonia com cavalos começou desde muito cedo. Aos cinco anos de idade, quando o tratamento indicado por um especialista sugeriu a equitação como método auxiliar no tratamento para se restabelecer de uma paralisia que teve enquanto ainda era bebe, ela deu os primeiros passos. A partir daí a montaria passou a ser uma atividade periódica. “Às vezes me afastava mas nunca me desliguei. Ficava um tempo parada mas sempre acabava voltando ao cavalo”, diz.
Em 2004, depois de uma cirurgia ortopédica, a amazona buscou no antigo habito a recuperação. “Ainda não pensava em competir até que, incentivada por um amigo, descobri o Adestramento Paraequestre”, conta. No mesmo ano Sonia ganharia o troféu Eficiência da Federação Paulista de Hipismo e repetiria a conquista no ano seguinte com o premio por equipe, além de alcançar bons resultados no brasileiro e no sulamericano da modalidade.
Mais tarde, em 2006, a perda da visão do lado esquerdo foi amenizada pela conquista da Bolsa Atleta internacional, concedida pelo Ministério do Esporte. Liberada pelos médicos para competir ela manteve o foco até 2010, quando embarcou para a Alemanha com a intenção de intensificar o trabalho visando os Jogos Equestres Mundiais de Kentucky, nos Estados Unidos. Uma queda durante o treinamento, porém, acabou deixando a atleta de fora do torneio.
A vontade de seguir montado e o ímpeto por resultados não a desanimaram. “Já levei vários tombos, de quebrar vértebra da coluna, mas nunca desisti. A vida me ensinou que a gente não pode se acomodar”, afirma. Restabelecida fisicamente, Sonia buscava novas alternativas mas ainda não conseguia achar o cavalo ideal para voltar a treinar.
Foi então que, após assistir à entrevista de um criador pela TV, teve a ideia de testar um cavalo Crioulo no Adestramento. “Pensei em quebrar esse paradigma que existe em relação ao Crioulo, entre os adeptos da modalidade. Quero mostrar que ele pode ser tão bom ou até melhor que as outras raças mais tradicionais no Adestramento e eu acho que tem tudo para dar certo”, descreveu ela, completando ainda que desconhece a ocorrência de animais da raça praticando o esporte.
A partir daí, Sonia foi atrás de um parceiro que acreditasse na proposta e desse o suporte necessário para tocar à frente o seu projeto. Telmo e o filho Felipe Motta, da Cabanha Don Teju de São Borja/RS, decidiram topar o desafio e abriram as portas à Sônia. Ela vai testar um animal da propriedade que será escolhido conforme as exigências do Adestramento e de acordo com as necessidades da amazona. O projeto ainda contará com o auxílio da ex-diretora veterinária da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), Petra Gabardi, que vai auxiliar no trabalho de adequação do animal à modalidade.
“Não quero fazer por fazer. Quero testar para ver se tem chance de ir à frente e mostrar que é possível”, adianta a atleta que pretende se deslocar até Porto Alegre e permanecer na capital gaúcha cerca de dez dias por mês para treinar com o cavalo. “A preparação será toda feita pela Petra, eu virei só para fazer a lapidação e formar o conjunto. No restante do tempo sigo montando semanalmente em Amparo/SP, onde moro, para não perder a postura”.
O desafio desperta grande expectativa na amazona que diz estar pronta para encarar a nova experiência com seriedade e ambição. “Estou disposta não só a vestir a camisa mas também a suar muito. Não estaria aqui se não acreditasse que é possível. Também não vou competir se perceber que não tenho chances de medalha”, diz.
O que é Adestramento Paraequestre *
Única disciplina do Hipismo do Programa Paraolímpico, o Adestramento Paraequestre é a 8ª modalidade esportiva da Federação Equestre Internacional (FEI), sendo praticada por pessoas portadoras de necessidades especiais (PPNE), divididos em quatro classes que buscam agrupar tipos de deficiência semelhante.
Vários países do Continente e a América do Norte adotaram a modalidade que em 1984 foi apresentada na Paraolimpíada de Nova York. No entanto, o número insuficiente de participantes acabou tirando o esporte das Paraolimpíadas de 1988, 1992 e 1996. O Adestramento Paraequestre só voltaria a fazer parte da programação nos Jogos de 2000, em Sidney, Austrália. Hoje o Adestramento Paraequestre marca presença em 40 países e é praticado por atletas com diferentes tipos de deficiência.
No Brasil, a equitação terapêutica foi adotada também na década de 1970 e entre os pioneiros estavam a fisioterapeuta Gabriele B. Walter e o Centro Equestre do Torto, na Granja do Torto, em Brasília (DF), onde nasceu a ANDE-Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. O conceito esportivo, no entanto, só se concretizou a partir de 2000, tendo Gabriele B. Walter como pioneira na ministração de cursos e busca do apoio da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) que passou a regulamentar o esporte a partir de 2002.
A competição
As provas de Adestramento Paraequestre obedecem a critérios conforme a competição. Em campeonato, por exemplo, atletas apresentam movimentos pré-determinados pelo Comitê Internacional Paraequestre (IPEC). Nas apresentações “Estilo Livre” (Kür) os atletas criam suas “rotinas” (figuras, no Adestramento Clássico) incorporando movimentos exigidos pelo IPEC de modo a demonstrar harmonia entre o cavaleiro e sua montaria. Existem, ainda, as “duplas livres”, competição opcional em que atletas executam rotinas (figuras) aos pares.
Para um país participar como equipe em competições internacionais é obrigatório que o time seja formado por 3 ou 4 atletas, onde pelo menos um deles deve pertencer ao Grau I ou II.
Os atletas dos Graus I, II e III apresentam suas reprises (exercícios) em pistas de 20mx40m, enquanto os de Grau IV em pistas com medida de 20mx60m.
A pista deve oferecer níveis de segurança maiores do que as pistas convencionais. Para isso, a areia, ao contrário do Adestramento convencional, é compactada para facilitar a locomoção do cavaleiro.
As letras de posicionamento são maiores para facilitar a leitura e a identificação. Uma sinalização sonora é usada para orientar o atleta cego: são os “chamadores”, que gritam letras conforme o cavaleiro se aproxima de um obstáculo.
O local de competição precisa ter uma rampa de acesso para os competidores subirem em suas montarias.
Mulheres e homens competem juntos nas provas e, diferente de outras modalidades do hipismo, no Adestramento Paraequestre os cavalos também são premiados.
* Fonte: Confederação Brasileira de Hipismo
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