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Fêmeas mostram mais resistência na 20ª Marcha de Jaguarão

13 DE MAIO DE 2012

   Depois de 45 dias, 750 quilômetros percorridos e alguns percalços como o surto de gripe equina e as condições climáticas - com temperaturas elevadas seguidas de queda abrupta para um frio de 6ºC –, FM Rendera do 5 Salsos, de Dom Pedrito/RS, sagrou-se a grande campeã da 20ª Marcha da Resistência. O evento organizado pelo Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Jaguarão/RS conheceu seu vencedor no final da manhã de domingo, dia 13 de maio, quando os únicos 15 finalistas – de 25 – que conseguiram se manter na prova percorreram os últimos 40 quilômetros.  No evento que melhor aproxima o criador de seu animal e mostra a rusticidade, resistência e força de superação do cavalo Crioulo, as fêmeas apresentaram melhor rendimento. Três éguas, FM Rendera do 5 Salsos, Favorita do Rincão da Querência e Magia do Rapador vinham na liderança da competição. Mas a disputa mais acirrada era entre as duas primeiras que tinham poucos minutos de diferença.  Favorita do Rincão da Querência, de Jaguarão, montada pelo ginete e criador Pedro da Silva vinha na frente com minutos de vantagens nas duas primeiras etapas da fase livre, porém na terceira, disputada na tarde de sábado, cansou e foi ultrapassada pelo eleito Melhor Ginete da competição, Fernando Paiva, com a campeã FM Rendera do 5 Salsos - de Rogério Gomes, mesmo proprietário da terceira colocada Magia do Rapador.  Com três minutos de vantagem conquistados no dia anterior, Fernando sabia que precisava apenas seguir o ritmo de Pedro para ganhar o título. Pedro, apreensivo pelo estado físico de sua égua no dia anterior acreditou que ela nem fosse conseguir completar o percurso. Mas teve uma surpresa. Após iniciar o trajeto com cautela, sua égua mostrou reação e aos galopes alcançou FM Rendera do 5 Salsos, conseguindo fazer uma disputa acirrada. Mas mesmo com a reação não conseguiu recuperar a vantagem e ficou com o vice-campeonato.  Para Pedro, a reação mostrada por sua égua, é a verdadeira prova da resistência do cavalo Crioulo. “Esta é a sexta Marcha que participo e com certeza o diferencial, além da segunda colocação, foi o quanto essa égua me surpreendeu. Quando eu vi o esgotamento físico dela na penúltima etapa achei que ela não conseguiria bom resultado na final e ela foi muito bem, faltou apenas reserva energética para levarmos o título”, disse o ginete. Orgulho de suas criações O significado do primeiro título de campeão de Marcha para Fernando Paiva foi tão forte que ele não conteve a emoção ao cruzar a linha de chegada. Campeão brasileiro de Enduro em 2010, Paiva tem história também na Marcha, algumas nem tão boas, como quando foi derrubado por seu cavalo em evento disputado em Bagé e lesionado teve de deixar a prova. Durante os 12 dias de percurso antes das provas livres, ele tomou todo o cuidado possível com FM Rendera do 5 Salsos e estreitou a relação com a égua. “A gente cria um vínculo muito grande com o animal nesta prova e tem um agradecimento muito grande a ele. Para realizar uma boa marcha a gente tem que se estudar e estudar o animal, além de tomar todo o cuidado para ele não se machucar e estar bem no dia das provas livres”, afirma o ginete.  Rogério Gomes também se emocionou com o sucesso de suas éguas. Além de campeã, FM Rendera do 5 Salsos faturou o título de Selo Racial e Animal com Melhor Condição de Seguir a Marcha. O criador que também é ginete afirma já ter competido em marchas e gostar desta prova por ser uma competição sadia. “Na Marcha não existe nota, é só tu e o cavalo, testa o teu conhecimento sobre o cavalo e é a prova mais seletiva da raça. Estes dois títulos – primeiro e terceiro lugar - me deixam muito feliz porque mostram a eficiência do meu trabalho”, afirma. Homenagem à organização  Apesar dos contratempos com a adenite, mais conhecida como garrotilho, e o vírus da Influenza, que fez com que três animais fossem eliminados da prova ainda na concentração, além de baixar a imunidade de diversos outros competidores, foram os 20 anos de prova que marcaram a competição.  Grande fã e adepto da Marcha, um dos organizadores do evento desde sua primeira edição, Luiz Carlos de Albuquerque, afirma que os percalços da marcha existem sempre e que competidores e organização estão acostumados a contornar estes episódios. “Este é o lado real da coisa. A falsa precocidade exercida pela maioria das pessoas que trabalham com o cavalo Crioulo é um equívoco, pois os anos em contato com a natureza fizeram dele um produto ecológico e querermos afastar o indivíduo do seu meio é um engano”.   Albuquerque ainda afirma que a raça crioula se regenera com episódios como a Marcha. “Isso aqui é para quem gosta de cavalo, quem quer selecionar, arquivar fatos reais para a raça, fazer famílias rústicas”, diz e ainda destaca: “No começo da cartilha está escrito: ‘rusticidade, poder de recuperação e resistência’, este é o tripé desta competição. O criador deveria olhar mais para isso aqui até porque a pontuação no Registro de Mérito é a mesma do Freio de Ouro”. Importância na história Antes da entrega de prêmio, o coordenador da Comissão da Marcha da Resistência, Paulo Móglia, representando a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) fez a entrega ao presidente do Núcleo de Jaguarão, Gilberto Gonçalves, de uma placa homenageando o Núcleo pela competência na organização da prova que completou 20 anos de sucesso e tradição. Também durante o evento Móglia destacou que as dificuldades encontradas na concentração e o forte calor enfrentado pelos competidores este ano servem como prova do poder de superação de adversidades que tem o cavalo Crioulo. Mesmo com imunidade mais baixa e grande queda de peso de alguns cavalos em decorrência do vírus, 15 animais completaram a prova. “Mesmo só alimentados a pasto e água, mesmo mantendo eles em seu habitat natural, eles cumpriram esta dura prova com êxito”, ressalta o vice-presidente.  O técnico credenciado pela ABCCC que supervisionou o evento, Rouget Wrege, também falou sobre a importância da competição. “A Marcha está entre os três eventos mais importantes da raça, é um dos três eventos de nível A que são de igual importância em Registro de Mérito. Todo o criador ou pessoa que goste da raça tem que pelo menos uma vez na vida acompanhar a Marcha, pois é uma prova muito forte que chega à essência e ao limite do cavalo Crioulo”. Rouget ainda destacou que esta 20ª edição foi muito rígida com os competidores devido a questão sanitária endêmica que o País enfrenta. E destacou que a superação destas dificuldades mostra o poder de recuperação da raça, já que “alguns animais se recuperaram marchando”.  A subcomissão veterinária do evento foi formada por Gilnei de Faria, Tiago Piúma, Hélio Affonso, Luciano Passos, Gustavo Passos, Luiz Pedro Albuquerque e Rafaela Jacques. O prêmio de Melhor Aprumos foi concedido a Se Viene Sombra e de Melhor Lombo a Criança Comparsa II. Veja os Resultados 1º lugar FM Rendera do 5 Salsos, filha de FM Granfino e Sirigaita do Cinco Salsos; criador Felipe Martins, expositor Rogério Gomes, Estância Santa Adélia, Dom Pedrito/RS. Ginete: Fernando Paiva.  Tempo final: 68:06:23 2º lugar Favorita do Rincão da Querência, filha de Corsário do Cinco Salsos e Atrevida da Bolsa; criador Luiz César Rodrigues, expositor Carlos de Souza e Pedro da Silva; Bagé e Jaguarão/RS. Ginte: Pedro da Silva. Tempo final: 68:10:13 3º lugar Magia do Rapador, filha de As Malke Cartucho e Peiteira Tupambaé; criador Eduardo Alberto Severo, expositor Rogério Severo Gomes, Estância Santa Adélia, Dom Pedrito/RS. Ginete: Eliézer Soares.  Tempo final: 68:50:50