Parede da Fama: Tributo à Flávio Bastos Tellechea
22 DE AGOSTO DE 2024 - ATUALIZADA EM 23 DE AGOSTO DE 2024 | Redator: Fernanda Mota e Liege Barcelos
O espaço, que celebra a trajetória daqueles que, por meio de seus feitos, marcaram seus nomes na história da raça crioula, prestará, em 2024, uma homenagem a outra grande e ilustre figura crioulista. No sábado, 24 de agosto, às 19 horas, na Parede da Fama, em frente ao Tattersall de Negócios, no Boulevard do Cavalo Crioulo, será descerrada uma placa em reconhecimento ao saudoso criador Flávio Bastos Tellechea.
Neste ano, a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) fará uma reverência à memória de uma figura emblemática que contribuiu imensamente para os pilares que se tornaram ferramentas de seleção e melhoramento genético do Cavalo Crioulo. Para o presidente da entidade, César Augusto Rabassa Hax, a justíssima homenagem considera as relevantes proposições que, através do conhecimento sólido aliado à capacidade de inovação e ao espírito inquieto de Tellechea, transformaram os fundamentos de morfologia e função do Cavalo Crioulo. "Flávio foi fundamental na formação da base do Freio de Ouro e na difusão dessa ferramenta de seleção que ali surgia. Para isso, usou sua capacidade zootécnica, status social e, sobretudo, a paixão que carregava para convencer e recrutar novos adeptos à modalidade", ressaltou o dirigente.
Médico veterinário, Tellechea se especializou em zootecnia para viver sua grande paixão: o campo. Essa paixão fez dele uma pessoa visionária, influente e muito respeitada no segmento pecuário. Sua representatividade e ensinamentos para a raça crioula são imensuráveis. Não é à toa que o Afixo BT, adquirido por ele e pelo irmão Roberto Bastos Tellechea na década de 1960, coleciona inúmeras premiações morfológicas e funcionais.
Sua relação com os cavalos crioulos, no entanto, começou anos antes, na década de 1950, quando iniciou seu criatório adquirindo o garanhão Sorro Campeiro e, na sequência, importou algumas éguas uruguaias que serviram de base para o trabalho científico e zootécnico que viria a ser realizado pelo criador. A Cabanha Paineiras, de propriedade da família, foi o cenário para as experimentações e o aprimoramento da criação equina.
A visão inovadora e audaciosa na pecuária como um todo fez com que Tellechea fosse jurado em exposições equinas em países do Mercosul e também nos Estados Unidos. Cada vez mais envolvido com as descobertas em prol da seleção do cavalo crioulo, adquiriu em 1971, em parceria com Luiz Martins Bastos e Roberto Bastos Tellechea, o reprodutor La Invernada Aniversário, inserindo linhagem chilena nas suas pesquisas de rigor genético. O resultado dos primeiros cruzamentos demonstrou alguns avanços.
Cinco anos mais tarde, uma nova importação marcou a virada de chave nos parâmetros da raça. Em 1976, Tellechea adquiriu, junto com o criador Dirceu Pons, o garanhão La Invernada Hornero, transformando os ideais de morfologia e funcionalidade. Esses parâmetros ajudaram a moldar o padrão de seleção, que Tellechea ajudou a consolidar nas provas funcionais realizadas em Jaguarão/RS.
Reconhecido pelo trabalho desenvolvido em seu criatório, pela sua grande capacidade de formar e difundir opiniões através de sua expertise técnica e por sua aptidão empreendedora e tecnológica, Flávio Bastos Tellechea foi convidado, em 1978, a julgar a Primeira Exposição Funcional de Jaguarão. Até então, as exposições realizadas por criadores no município gaúcho se restringiam às características morfológicas; entretanto, sendo o crioulo um animal também para as lides do campo, o quesito funcionalidade não poderia ser desprezado.
Dessa forma, os organizadores da prova, que futuramente serviria de base para as diretrizes do Freio de Ouro, entre eles Bayard Bretanha Jacques, Fernando Rodrigues Affonso e Luiz Carlos Cassal de Albuquerque, acreditavam na necessidade de um olhar externo, que, além de apurado, agregasse conhecimento, e encontraram em Tellechea a figura ideal para o julgamento dos animais expostos.
Durante as três edições em que julgou, Tellechea demonstrou seu vigor e paixão pela raça. Enquanto jurado, não apenas contribuiu para a definição dos critérios básicos da avaliação funcional. De acordo com o ex-dirigente da ABCCC, João Alberto Dutra da Silveira, a presença de Tellechea foi fundamental para o estabelecimento de algumas diretrizes importantes para as etapas funcionais. "[Ele] fundamentou as provas de figura, mangueira e campo com sua experiência zootécnica." E completa: "No quesito julgamento morfológico, foi responsável por inserir avaliações funcionais, valorizando a apresentação dos exemplares encilhados e sempre observando-os a partir de suas andaduras, comodidade e progressão."
Em 1987, Flávio Bastos Tellechea participou da reunião que marcou a criação do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos da Região Oeste, no Sindicato Rural de Uruguaiana. Ele presidiu a entidade por dois anos, e hoje a instituição carrega seu nome em reconhecimento à sua contribuição para a raça. Tellechea era conhecido por sua personalidade marcante e por sua dedicação, afinco e determinação ao longo de sua trajetória. Sua filha, Mariana Tellechea, recorda com carinho como seu pai valorizava os encontros e as trocas com outros entusiastas do Cavalo Crioulo. "Eu lembro dele na roda dos amigos, com alegria, aproveitando todos os encontros e desfrutando não apenas do prazer de observar, montar e produzir bons cavalos, mas também da amizade e do companheirismo que tudo isso envolvia", afirma a titular da Cabanha Basca.
A audaciosa busca de Flávio Bastos Tellechea pelo aprimoramento genético do cavalo crioulo, ao combinar características morfológicas e funcionais, revolucionou o padrão racial da raça. Seu legado, marcado por avanços significativos na genética, é perpetuado por sua esposa, dona Lila Tellechea, suas filhas Maria da Glória Tellechea Cairoli e Mariana Tellechea, e sua neta, Lila Tellechea Pinto. À frente dos negócios da família, elas transformaram a marca BT em um pilar fundamental para o desenvolvimento e aprimoramento do Cavalo Crioulo. Mariana Tellechea destaca: "Foi um privilégio ter ele como pai e herdar seu legado. Sempre que penso em meus próximos passos, sinto a presença dele como uma estrela que ilumina meu caminho. Ele é um exemplo, é um guia constante, e buscamos sempre aprender com tudo o que ele nos deixou."
A homenagem a Flávio Bastos Tellechea é, portanto, um merecido reconhecimento de uma vida dedicada à excelência na criação e seleção do Cavalo Crioulo.
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