Desmame de potros vai além de um simples procedimento e exige cuidados
02 DE JULHO DE 2013
A alimentação dos equinos sempre foi um tema bastante debatido entre criadores e estudiosos. O assunto ganha ainda mais importância quando se fala em desmame de potrancos, já que a prática está intimamente relacionada com o crescimento e a saúde do animal.
Em geral, o desmame deve ser feito entre o sexto e o oitavo mês de vida do potro, quando os nutrientes da lactação começam a deixar de ser suficientes para o seu desenvolvimento. Desmamar o potro em uma faixa de idade menor pode ser arriscado, já que antes dos seis meses a taxa de crescimento e o ganho de peso são maiores e esse processo pode atrasar demasiadamente a evolução do equino.
Esse primeiro manejo alimentar deve ser realizado com cautela. Acontece que, se por um lado o sobrepeso prejudica o crescimento ósseo do cavalo e pode lhe trazer consequências irreversíveis, por outro a desnutrição causa perdas ao progresso corporal que dificilmente serão recuperadas pelo potro.
Além disso, o desapego de mãe e filho ocasionado pelo desmame é um dos períodos mais estressantes e traumáticos na vida de um cavalo. No entanto, existem técnicas capazes de atenuar e fazer com que os efeitos decorrentes desse processo sejam menos prejudiciais ao comportamento dos animais. Pelo menos é o que garante a médica veterinária Gabriella Möller, mestre em reprodução equina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em diagnóstico e cirurgia de equinos pelo Instituto Brasileiro de Veterinária (IBVET).
Segundo a especialista, antes de desleitar é importante que os potrancos sejam vacinados. Já que no período de desmame os potros tentem a ter imunidade baixa, os animais devem ser vacinados de acordo com o local em que vivem e às doenças as quais estão expostos. Além disso, a vacinação da égua gestante pode contribuir com a imunidade da cria, que recebe os anticorpos passivamente pelo colostro.
Gabriella aponta como ideal o desmame gradual, aquele em que o potro é retirado algumas horas por dia do convivo da mãe até se habituar à nova fase. No entanto, o procedimento demanda tempo e pode se tornar penoso para propriedades com um grande número de animais.
Sendo assim, como os potrancos vivem uma fase de aprendizado e não possuem experiência de vida suficiente para tomar decisões importantes, a solução para um desmame menos traumático passa pelo uso de uma égua madrinha. A técnica consiste em inserir uma fêmea mais velha sem potro junto à manada com cria. O procedimento deve ser feito pelo menos 30 dias antes do desmame, tempo suficiente para que os animais se acostumem com a égua que servirá de “professora”.
"Com a retirada das mães, os potros acabam seguindo as orientações do animal mais velho. Isso facilita a suplementação mineral, o racionamento e o manejo deles para troca de campo ou ida à mangueira", explica a veterinária.
Enquanto afastados é aconselhado que os potros não consigam enxergar ou ouvir os relinchos de suas genitoras. Isso evita que eles se agitem e tentem pular cercas atrás de suas mães. A fim de contornar essa situação e manter o potranco mais calmo, em propriedades pequenas ou naquelas em que os aramados podem representar perigo, é certo manter o potro na mangueira por um ou dois dias com a égua madrinha, juntamente com água e comida.
Além disso, no desmame é importante que as mães sejam retiradas do potreiro e não os potros. Acontece que os potrancos já conhecem o seu habitat e realocá-los poderia acarretar-lhes mais um trauma. “Em um novo ambiente o risco deles se jogarem na cerca é maior. Além disso, podem ter dificuldade em encontrar água e se acalmarem”, esclarece Gabriella.
De acordo com a especialista, o processo do desmame pode ser conduzido pelo próprio criador. Nesses casos, o papel do veterinário reside no auxílio à adequação do método utilizado. “Quando houver disponibilidade de pastagens de inverno, como o azevém, o potro pode ser criado exclusivamente a pasto, recebendo apenas suplementação mineral. Se a disponibilidade de pasto não for suficiente, o potro pode ser suplementado com concentrado. Existem diversos produtos no mercado e o essencial é que a ração fornecida seja adequada à faixa etária de cada animal”, explica.
Esse primeiro manejo alimentar que vem junto ao desmame é também o melhor momento para combater as deficiências de crescimento dos potros. Nessa altura já se pode medir a alçada, o tórax e o perímetro de canela do animal. Se o potro estiver aquém dos parâmetros da raça Crioula deve receber rações especiais para auxiliar no desenvolvimento adequado.
A égua gestante e a amamentação
Segundo Gabriella, a lactação exige que a égua consuma até 1,7 vez mais nutrientes que uma não lactante necessita. Esse número deve ser ainda maior quando, além de amamentar, a égua também está prenha.
A fim de recuperar a condição corporal, aconselha-se que as éguas prenhas parem de aleitar antes de entrar no terço final da gestação, período em que há o maior gasto energético.
Ausente o aporte nutricional adequado, a égua instintivamente irá priorizar a sua saúde em detrimento à do potro e à do feto. Sendo assim, o leite pode ficar mais escasso e com a qualidade abaixo da desejada e no que tange à gestação pode ocorrer a reabsorção embrionária ou aborto.
Texto: Maurício Mesquita/ABCCC
Foto: Ceni Adriano Alves
Jornal Cavalo Crioulo – maio/2013
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