Logo -
sombra

Nutrição equilibrada de Norte a Sul

23 DE MAIO DE 2013

  Nos pampas do Brasil, do Uruguai e da Argentina, o cavalo Crioulo desenvolveu sua resistência e força características. Natural de uma terra de clima temperado, com pastagens ricas em nutrientes, o animal sulista tende a apresentar melhor desempenho quando inserido em seu habitat natural. Porém, com as vantagens da raça cada vez mais difundidas, o Crioulo vem sendo levado para outras regiões. A partir dessa mudança, em nível nacional, quais seriam os desafios e as adaptações necessários para uma boa criação fora do Rio Grande do Sul? No que compete à alimentação, algumas alterações são importantes, principalmente, quanto ao pasto, à ração e aos suplementos. São medidas essenciais para uma nutrição equilibrada, cujo objetivo é manter o máximo da capacidade oferecida pelo Crioulo.   Em um primeiro momento, é preciso considerar que a pastagem é o alimento natural mais indicado para os equinos. Por isso, o método de criação deve priorizar o pasto perante comidas industrializadas. De acordo com o veterinário Ricardo Larossa, os estados da região Sul do país apresentam solos considerados nobres.  “O clima temperado proporciona capins de melhor qualidade em comparação com aqueles das regiões tropicais e subtropicais”, afirma. Porém, para não desmotivar os criadores, Larossa adverte que é possível compensar um ambiente não tão fértil com a utilização de rações, a fim de suprir valores energéticos e protéicos.   Esse é o caso do gaúcho Haroldo Siqueira Leonetti, criador da raça desde 2002 em Brasília, no Distrito Federal. Ele sabe das diferenças regionais e, com 15 éguas em sua propriedade, busca oferecer uma alimentação semelhante à do sul do Brasil. “O pasto é à base dos capins tifton e estrela, acompanhado de um pouco de massai”, comenta. O complemento vem de feno de alfafa e grãos de aveia. O diferencial, segundo Leonetti, é o estilosante, um verde da família da alfafa popular na região centro-oeste do país.    Cuidados com pastagem  “Os pastos das regiões tropicais costumam ser mais adequados a bovinos do que a cavalos”, aponta o veterinário sobre a dificuldade de criar equinos em partes do centro-oeste, norte e nordeste brasileiro. “O que se tem para o cavalo comer no Mato Grosso, Pará e em Goiás? É brachiária, massai e mombaça. São capins para boi, não para cavalo”, diz. Alguns desses podem causar problemas na absorção do cálcio e, consequentemente, a descalcificação crônica. Segundo Larossa, os capins de regiões mais áridas são ricos no elemento natural oxalato e levam o cálcio, na forma sólida, a prejudicar a absorção.   Entre os mais indicados para as regiões tropicais e subtropicais estão os capins tifton e coast-cross, que são adequados à necessidade dos cavalos. “Os criadores que conseguem produzir estes dois e seus similares estão bem encaminhados. Se realizam irrigação, a qualidade do capim aumenta.” Em alguns casos, como compensação, é preciso introduzir maior quantidade de fenos e minerais à alimentação dos equinos.   Na falta de pastagem, a alfafa é um feno bastante recomendado. Porém, é produzida em solos ricos em nutrientes, principalmente na região Sul. Não se planta alfafa em Rondônia, por exemplo, porque tem muita chuva. Assim, o transporte de feno para as regiões ao norte do país é frequente. O que impede a aceitação desse suplemento é o custo elevado da industrialização. A aveia também possui uma boa referência. “Não é tão boa quanto o capim, mas é indicada para comer como parte da ração”, confirma Larossa.   Na prática Marcelo Rodrigues, criador do Piauí, possui quatro cavalos Crioulos. Dois para competição e dois para treinamento. Começou em maio de 2010 através do projeto Vaquejada, quando adquiriu o primeiro animal. “Devido à rusticidade, o Crioulo exige menos cuidados que as outras raças. São mais fortes e sentem menos nas provas”, comenta sobre sua satisfação com o equino.   Quanto à pastagem natural, utiliza os capins tifton e tanzânia. Segundo ele, as variedades de origem africana são mais adequadas aos cavalos na região nordeste, conforme as semelhanças pelo clima semitropical. Aponta como principal dificuldade os períodos de seca, que obriga realizar irrigação ao menos por seis meses do ano. Além desse cuidado, também é preciso, eventualmente, uma correção de solo.   Marcelo conta que cuida da alimentação de seus cavalos com capim, ração e sal mineral. Diferente do Rio Grande do Sul, onde existe uma série de grãos e leguminosas à disposição, o manejo no Piauí obriga a introduzir ração concentrada na dieta nutricional dos animais. Aveia e alfafa não são utilizadas porque representam um valor muito dispendioso.   O consumo diário com volumoso gira em torno de 20% do peso do animal, completado com quatro a cinco quilos de ração, dependendo das atividades desempenhadas. Rodrigues comenta que o saco de ração com 40 quilos custa em média R$ 50,00, o que pode ser considerado um valor alto para se criar cavalos no nordeste. Ainda assim, em comparação com as demais raças, o Crioulo é mais barato, porque, sendo rústico, consome menos ração, cerca de um quilo a menos por dia, representando, assim, uma redução de custos significativa a longo prazo, afirma o criador.    Texto: Max Cirne/ABCCC Confira outros artigos no Jornal Cavalo Crioulo. Você pode assinar e receber a versão impressa em sua casa, basta efetuar o solicitação. A versão digital  possui os mesmos conteúdos e pode ser acessada livremente na página da ABCCC.